O desafio agora é vencer barreiras e entregar as promessas climáticas

Esse artigo foi inicialmente publicado pelo Valor.

A Climate Week NYC acontece anualmente desde 2009, na mesma semana da Assembleia-Geral da ONU. Aproveitando a presença de representantes de vários países na cidade de Nova Iorque, o objetivo da Climate Week é colocar o debate sobre mudanças climáticas no centro das discussões envolvendo governos, investidores, líderes empresariais, ONG's (Organizações não governamentais) e a comunidade como um todo.

Durante toda a semana, centenas de eventos acontecem espalhados por Nova Iorque para discutir questões ligadas ao meio ambiente, energia, finanças verdes, políticas públicas, segurança alimentar, justiça social e outros. Este ano, após dois anos de ausência física por conta da pandemia, o evento voltou a ser presencial tendo acontecido entre os dias 19 e 25 de setembro. Para o Brasil, o evento começou na semana anterior com o Brazil Climate Summit acontecendo entre os dias 15 e 16 na Columbia University.

O Brazil Climate Summit, organizado por alunos da universidade apoiados por investidores e líderes empresariais, teve como objetivos apresentar o Brasil como um importante ator para apoiar a transição climática e gerar desenvolvimento econômico para nossa população, discutir formas de atrair mais capital verde e sustentável para o país e discutir o papel do setor privado no cumprimento da agenda 2030 do Brasil.


Durante os dois dias do evento, foram realizados debates sobre o potencial do país como hub de energia e produtos de baixo carbono, os principais requisitos para se criar um mercado brasileiro de créditos de carbono, oportunidades em agricultura sustentável, a importância das curvas de descarbonização setoriais, o papel da Amazônia no equilíbrio climático e o combate ao desmatamento ilegal. No sábado, a agenda brasileira continuou forte com um evento do UN Global Compact na sede das Nações Unidas que discutiu os principais desafios para o Brasil atingir seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Na programação cientistas, empreendedores, representantes governamentais e de organismos internacionais, executivos do setor público e ativistas sociais debateram os desafios para uma sociedade mais sustentável. Ao longo da semana, outros eventos focados em Brasil aconteceram em sessões paralelas com destaque para a questão amazônica e projetos de reflorestamento em larga escala, fontes de financiamento para a transição climática e curvas de descarbonização em setores intensivos em carbono.

Se a presença do Brasil nas sessões paralelas da Climate Week foi forte e concorrida, na programação principal do evento, o Hub Live, que aconteceu durante os dias 20 e 21 de setembro, a participação de painelistas brasileiros ficou restrita a dois painéis (dos 23 realizados), nos quais foram tratados o financiamento para um futuro mais justo na América Latina e a redução de emissões nas cadeias de produção de alimentos.


Interessante que apesar de todo o potencial que o país tem para a transição energética na produção de energia verde, bem como na oferta de projetos para offset de carbono, estivemos fora destas discussões que ocorreram na programação oficial. Este fato aponta para a necessidade de o país retomar seu protagonismo na transição climática, como já aconteceu em um passado não tão distante a partir do alinhamento entre políticas públicas e o fortalecimento da agenda climática no setor privado.Em termos de aprendizado sobre como o setor privado pode contribuir para a transição climática, se no ano passado um dos temas centrais da Climate Week NYC foi como transformar compromissos climáticos em planos e ações, este ano em preparação para a COP27, que acontece no Egito em Novembro, o tema foi como vencer barreiras para entregar os compromissos assumidos.


No relatório “Getting Gone”, preparado pelo Climate Group e a Oliver Wyman para o evento, foram apontados quatro elementos principais. A questão climática requer Atenção em toda a organização, em todos os níveis de gestão para que as pessoas entendam a importância do tema. A organização precisa de uma Visão para definir metas e prioridades e dar forma a uma agenda que muitas vezes é tática e dispersa. Essa visão deve estar inserida na realidade da Operação da organização. E a organização deve alinhar a Responsabilidade das pessoas, de uma forma que apoie e incentive as ações necessárias para a transição climática.

Estes elementos são ainda mais importantes haja visto que o senso de urgência aumenta a cada dia. Em se tratando de clima as empresas não poderão se contentar em fazer as coisas que já estão fazendo, mudanças incrementais não levarão empresas, mercados e a economia como um todo a fazer a transição com rapidez suficiente. Serão necessárias apostas maiores e empresas ousadas e corajosas, atingir a escala necessária será qualitativamente diferente do que temos hoje.